Com certeza seus avós já te contaram sobre uma época num passado não muito distante, quando lavadeiras perdiam horas na beira do Arrudas cantando e esfregando suas roupas, em meio a pescadores trabalhando, crianças se divertindo...
A funcionalidade do ribeirão era clara, ele fazia parte da vida daquelas pessoas ali.
Mas e hoje? Como resgatar essa relação, de certa forma, afetiva?
A proposta é mostrar que a forma de uso e ocupação de um rio depende sempre das necessidades da geração que o acompanha, e, seguindo essa linha de raciocínio, concluímos que o Ribeirão Arrudas poderia contribuir muito para melhoria na qualidade de vida da população.
A princípio pode ate parecer funcionalista demais: tornar o ribeirão Arrudas navegável, uma alternativa para o trânsito urbano belorizontino em crise. Mas o projeto Aquabus é muito mais que isto. A proposta não consiste em apenas mais uma medida paliativa para uma problemática urbana, nem tem a pretensão de ser chamada de solução.
A idéia é trazer o Arrudas de volta para vida da população de Belo Horizonte. A partir do momento que o individuo enxergar no ribeirão, não só um canal de concreto, mas sim seu caminho para o trabalho, seu caminho para casa, se torna claro o ganho de um significado outrora ausente. E mais uma vez o clichê da preservação do patrimônio público vem à tona: “você cuida daquilo que você precisa/usa/gosta”. Daí o ambicioso projeto mostra-se muito mais sutil que aparenta. Poderemos dizer que o projeto alcançará o sucesso, quando a proposta se auto-alimentar.
Há um trabalho psicológico envolvido que serve de combustível para a sustentação do projeto. A satisfação máxima de nós idealizadores será um dia ouvir: "Estou esperando MEU bote"; "Esta é MINHA estação", pois será o dia em que a plena apropriação por parte da população terá ocorrido de fato e os problemas de conservação e de cunho ambiental estarão sendo vistos com outros olhos.
Um exemplo simples: o estado deplorável de poluição em que se encontra o rio atualmente é fruto de sua renegação por parte da população. Situação que será transformada cotidianamente, pois a partir de então o rio fará parte do dia-a-dia de cada individuo que com certeza vai desejar deslocamentos agradáveis, confortáveis e não um percurso regado a mau cheiro e tons de cinza. Neste caso, as chances de um ocorrer apoio maciço popular a alguma iniciativa governamental – por exemplo, no sentido de recuperar a qualidade da água do ribeirão – serão bem maiores a partir do momento que o Arrudas faz parte da população de Belo Horizonte.
Isso sem falar na possibilidade de retomar as grandes avenidas que margeiam o ribeirão como espaços de convivência e não somente como vias de tráfego, afinal este tráfego estará ocorrendo otimizado dentro do rio, liberando suas margens para atividades físicas e/ou de lazer, intervenções urbanas, exposições de arte e um leque de atividades a escolha da população naquele “novo” espaço.
Em termos simples o projeto consiste no tradicional “Uma coisa leva a outra”. É atrair o belorizontino para dentro do rio novamente, não permitir que o ribeirão continue sendo ignorado, mas que este conquiste a atenção da população outra vez, e assim esta população não se sentirá obrigada a, mas espontaneamente desejará zelar pelo Arrudas.